quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Ave Maria

Diz minha vó que havia uma velhinha no interior que morava só. Só, mais um papagaio.
Tinha sempre o cuidado de aparar as asas do bicho para que não voasse e a deixasse sem companhia.
Entretanto, com certa idade, é comum esquecermos as coisas. Não deu outra então: o papagaio acabou fugindo.
A velha ficou triste, estava só. Ficou dias lembrando do bicho, do que ele falava e cantava.
Na verdade, era um papagaio silencioso. Mal falava e também mal cantava. Ela tinha-lhe ensinado, com muito esforço, a cantar ‘Ave Maria’ e era praticamente só isso que cantava.
Semanas passaram e a velhinha sentia mais falta do bicho. Pensava que retornaria a qualquer hora, por isso deixava sempre as janelas abertas.
Começou a tricotar, embora fosse uma atividade da qual não tinha qualquer expertise. Ia para a velha cadeira de balançar e tricotava por horas, sempre olhando as janelas. Naquele dia não foi diferente.
Fazia muito calor. A luz do sol entrava na sala de estar sem nenhuma cortesia. Uma luz branca que, de repente, tornou-se verde.
A velhinha estranhou. Viu a luz verde no chão sem entender muito e, em seguida, ouviu um farfalhado que parecia já conhecer.
Foi até a janela e viu o céu todo verde! Em seguida, ouviu várias vozes em harmonia que cantavam ‘Ave Maria’. Eram vários papagaios! Todos voando e cantando.
A velhinha assistiu ao espetáculo da janela e quando acabou voltou ao tricô. Cheia de idéias.

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