Alguns sentimentos são mesmo como montar na cauda de um meteoro
Como se queimar de febre num primeiro beijo que passa e te questiona
Se agi errado desde o começo ou se por outra oportunidade imploro?
Ou seria melhor ficar numa estrela estática, eterna, que não emociona?
Depois de uma longa conversa, ele chega em casa e pensa: não é justo
Ter liquefazido e entregue o dormente coração por mais uma vez
Para vê-lo novamente reservado na prateleira de um laboratório angusto
Ter beijado os doces olhos, ainda vermelhos, com pouca sensatez
Quando esses continuam a mirar para um caminho ainda definido, robusto
Depois daquela conversa, ele perde as palavras dadas de indiscernimento
Quer recolher o pouco que doou, esquecer os versos e o amor brando
Mesmo que permanecer febril tenha sido o seu comprometimento
Deu um pouco a volta e reivindicou o lugar que já vem alimentando
Mas sabe: é enorme o espaço sideral e quente a cauda desse meteoro
Nota: odiei escrever esses.
QUASE-JOSÉ
terça-feira, 2 de janeiro de 2018
quinta-feira, 28 de dezembro de 2017
Dois olhos, dois olhares
Com a maior
atenção
Você olhou pra
mim
E de pronto perguntou
Porque tá olhando
o celular só com um olho
E no
momento eu me evadi
Não quis dar
qualquer razão
Mas agora
eu penso
São
poucas as pessoas
Com tal
poder de observação
Veio hoje o
pensamento
De que talvez
tenhamos começado errado
Mas um amigo
falou quase calado
Com seu usual poder de persuasão
Não existe começo,
meio e fim
Ou certo e
errado
E eu me
convenci por inteiro
Questionando
minha racionalidade
Certo que
de você posso esperar algo
E que ainda
quero sentir o seu cheiro
Dentro do
meu coração derretido
Eu tô num
estado febril
Passei o
dia lembrando
Que podia
ter te respondido
Romântico e viril
O fato é que
tenho dois olhos
Gosto de
pensar que um deles é
atento
E que o outro nem tanto
Porque simplesmente apaixonado
domingo, 30 de julho de 2017
Ainda
Como se estivéssemos submersos
Juntos e segurando a respiração
Afogamos-nos num enorme deserto
De esquecimento, leveza, reparação
Juntos e segurando a respiração
Afogamos-nos num enorme deserto
De esquecimento, leveza, reparação
Nós passamos dias e dias pedindo
Um olhar da revelação
Um olhar da revelação
Eu sou eu, você, você
Mas ainda juntos
Mas ainda
domingo, 11 de dezembro de 2016
Incógnita
Eu não sou religioso
Mas me sinto tão movido
Tenho vontade de rezar
Pelo tempo perdido
São os pequenos atrasos
As grandes negligências
É a dor que eu engasgo
É a falta de inteligência
E são as velas que acendemos
No meio duma tempestade
Porque ambos imaginemos
E se nem tudo for a Sua vontade
Não acharemos respostas
Para tão insólita equação
Só se quer desaparecer
Extirpar a dor do coração
E no corredor dum hospital
É a dor que temos à mão
No topo de uma estrela
É alto e pesado o coração
Mas me sinto tão movido
Tenho vontade de rezar
Pelo tempo perdido
São os pequenos atrasos
As grandes negligências
É a dor que eu engasgo
É a falta de inteligência
E são as velas que acendemos
No meio duma tempestade
Porque ambos imaginemos
E se nem tudo for a Sua vontade
Não acharemos respostas
Para tão insólita equação
Só se quer desaparecer
Extirpar a dor do coração
E no corredor dum hospital
É a dor que temos à mão
No topo de uma estrela
É alto e pesado o coração
segunda-feira, 5 de dezembro de 2016
Por aqui estivemos
Nós andamos pelas ruas
Como se fôssemos realeza
Ainda não amanheceu
Você é sorriso, é tristeza
E quando todos dormem
Você sonha, sonha
Eu dou um passo na lua
Nós cruzamos os dedos
É um salto olímpico
Você cheio de medos
E quando todos dormem
Você sonha, sonha
E todas as coisas mudam
Assumem um ou outro formato
Nós vemos as fotografias
Mas o passado é um contrato
E quando todos dormem
Você sonha, sonha
Nossos cabelos ao vento
Depois nós percebemos
Que quando nada ia bem
Por aqui estivemos
Como se fôssemos realeza
Ainda não amanheceu
Você é sorriso, é tristeza
E quando todos dormem
Você sonha, sonha
Eu dou um passo na lua
Nós cruzamos os dedos
É um salto olímpico
Você cheio de medos
E quando todos dormem
Você sonha, sonha
E todas as coisas mudam
Assumem um ou outro formato
Nós vemos as fotografias
Mas o passado é um contrato
E quando todos dormem
Você sonha, sonha
Nossos cabelos ao vento
Depois nós percebemos
Que quando nada ia bem
Por aqui estivemos
quinta-feira, 3 de novembro de 2016
Fragmento
Cheguei e sentei na cadeira da sala de jantar descompromissado. Já estavam todos presentes.
- Que livro é esse que você anda lendo?
- Macunaíma. Secundei sem emoção.
- Quê? Mais-cu-na-Índia?!
Foram só risos.
- Que livro é esse que você anda lendo?
- Macunaíma. Secundei sem emoção.
- Quê? Mais-cu-na-Índia?!
Foram só risos.
Ave Maria
Diz minha vó que havia uma velhinha no interior que morava só. Só, mais um papagaio.
Tinha sempre o cuidado de aparar as asas do bicho para que não voasse e a deixasse sem companhia.
Entretanto, com certa idade, é comum esquecermos as coisas. Não deu outra então: o papagaio acabou fugindo.
A velha ficou triste, estava só. Ficou dias lembrando do bicho, do que ele falava e cantava.
Na verdade, era um papagaio silencioso. Mal falava e também mal cantava. Ela tinha-lhe ensinado, com muito esforço, a cantar ‘Ave Maria’ e era praticamente só isso que cantava.
Semanas passaram e a velhinha sentia mais falta do bicho. Pensava que retornaria a qualquer hora, por isso deixava sempre as janelas abertas.
Começou a tricotar, embora fosse uma atividade da qual não tinha qualquer expertise. Ia para a velha cadeira de balançar e tricotava por horas, sempre olhando as janelas. Naquele dia não foi diferente.
Fazia muito calor. A luz do sol entrava na sala de estar sem nenhuma cortesia. Uma luz branca que, de repente, tornou-se verde.
A velhinha estranhou. Viu a luz verde no chão sem entender muito e, em seguida, ouviu um farfalhado que parecia já conhecer.
Foi até a janela e viu o céu todo verde! Em seguida, ouviu várias vozes em harmonia que cantavam ‘Ave Maria’. Eram vários papagaios! Todos voando e cantando.
A velhinha assistiu ao espetáculo da janela e quando acabou voltou ao tricô. Cheia de idéias.
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